Essa não será uma carta de amor. Digamos que ela seja uma carta-desabafo. Cafona? Exatamente. Cartas ridículas lotam os anais das obras afetivas, aquelas que um dia nos matam de vergonha. Mas eu posso, afinal de contas. Eu, aliás, posso qualquer coisa. Há muito tempo venho me permitindo não mais me preocupar com certos códigos externos de conduta. Como fazer, o que não fazer, para que fazer. Tudo o que não fiz foi porque não quis, detesto que me ditem regras. Sou geniosa. Sob consulta, diriam: não ligue para ele, não diga que sofre com esta distância. Só que não suporto o gosto de sapo. Não engulo, sequer aproximo da boca. Não gosto de quem não me trata bem. Sapos, como a maioria dos répteis e razoável parte das pessoas, são gelatinosos, escorregadios; previsíveis em suas estratégias de pulinhos desordenados. Aqueles consultores, os que eu não tenho, diriam-me na certa: carta-desabafo? Jamais! Nada melhor que o desprezo! Gente, eu matava quem inventou esta pérola da babaquice humana. Se desprezo funciona, para mim, é para eu deixar de gostar de quem se utilize dele. Não me ligando. Somente para isso. No mais, no máximo, o desprezo me serve como imediato desencanto. Você agiu de propósito? Uma tática Proposta Indecente? Se foi, tsi, péssima solução. Eu, por minha vez, tranqüila – estou calma como... o que é supercalmo?... como uma monja gorda, eremita, no mais alto cume do Tibete -, devo dizer para você uma coisa: estava tão certa de que uma paixão não deve ser jamais sublimada, já que assim torna-se cancro, que me encontrava disposta a também realizar este mesmo sentimento. Com certeza e força. Com toda a beleza e liberdade. Porque não haverá, nunca, algo que consiga ser maior que a liberdade. Eu fiz tudo para ser livre, e o meu amor haveria de ser poupado da dor, ou de qualquer outro constrangimento, uma vez que sabe-me livre. Conheceu-me livre. Amou-me por eu ser livre. Mas Santo Expedito agiu rápido, obrigada Senhor. A graça alcançada? Minha paixão diluiu, tipo uma pastilha efervescente. Agora estou leve, não aguardo mais nenhum telefonema, que não os que sempre me trouxeram amor verdadeiro, duradouro e inigualável. Não há desculpas de “estou ocupadíssimo”; um homem que me tem amor jamais está ocupado demais para falar-me oi.
Carta-desabafo?! Foda-se.